Para aproveitar uns dias de
descanso que me concederam, aproveitei para ir a Livingstone e ver as tão
famosas Cataratas Victoria. Para ir para Livingstone tinha
que ir de autocarro e para isso precisava de ir a Mongu. Aproveitando uma
boleia de uns tipos aqui do parque que precisavam de ir a Mongu na 4ª feira
passada, aí fui eu.
Elefantes nas margens do Zambezi em Livingstone |
De Mongu a Livingstone são apenas
530 kms, no entanto a estrada é tão má, que só há um autocarro por semana e
demora dois dias a lá chegar... passar 48 horas num autocarro mais velho que
sei lá o quê por estradas do inferno, não me pareceu uma boa ideia, pelo que
decidi ir para Livingstone via Lusaka, um caminho de 1100km mas que demora bem
menos tempo... Claro que nem tudo é perfeito e os autocarros expresso (pelo
menos os que apanhei) são uma espécie de igreja maná sobre rodas... se não és
católico ou lá o que é, ficas a ser à força: horas e horas num autocarro com
videos de missas ao bom estilo da igreja universal, coros de igreja, por aí
fora... houve um autocarro que apanhei que antes de o autocarro arrancar levas
com um padre a dar missa dentro do autocarro que te lixas! Devia ter levado uma
t-shirt a dizer “I love satan” só para chatear...
Finalmente vi crocodilos como deve ser quanto arrotava 60$ num cruzeiro com jantar no Zambezi |
Na estação de autocarros de Lusaka,
um espaço aberto onde quaisquer semelhanças com uma lixeira a céu aberto são
pura coincidência, decidi fumar um cigarrito enquanto esperava pelo autocarro,
nisto aparece-me um polícia à frente a dizer que fumar ali era proibido e que tinha
que o acompanhar à esquadra. Dentro da esquadra, um espaço minúsculo com mais
dois polícias lá dentro e um cheiro no ar que era um misto de suor e mijo,
dizem-me que tenho que pagar uma multa de 450.000 Kwachas (90$), peço-lhes
imensa desculpa dizendo que não fazia a mínima ideia e que não há sinais
absolutamente nenhuns a dizer que é proibido fumar, a resposta não podia ser pior:
“se não paga a multa fica detido”. “Wow! O quê?” Tentei explicar que era um
turista e que não sabia as regras dali e que tinha um autocarro para apanhar em
30 minutos e que não podia estar ali mais tempo... o cabrão nem truz nem muz...
até que lhe disse que só tinha 50.000K comigo... claro que olharam uns para os
outros e claro que aceitaram o soborno... saí dali o mais depressa que pude e
enfie-me logo no autocarro.
Livingstone a comparar com as
outras cidades que tenho visto aqui na Zâmbia é bem mais arrumadinha e limpinha,
não fosse o local mais turístico de todos. Tudo ali é virado para o turismo,
centenas de gajos na rua a impingirem óculos escuros, estatuetas, pulseiras,
brincos, tudo e mais uma coisa... e que chatos que são! Mesmo nas lojas, não se
consegue estar um segundo a olhar para as coisas sem que venha um gajo
agarrar-te no braço e fazer-te ver as coisas que ele quer... marketing mais
agressivo não há, o que eles não percebem é que isso só tira a vontade de
comprar o que quer que seja.
Babuínos no catanço em Victoria Falls |
Mas como qualquer sítio virado
para o turismo tudo se paga e bem! Há imensa coisa fixe para se fazer em
Livingstone, desde que tenham uma carteira a transbordar dinheiro. Eu bem que
gostava de ter feito rafting... mas pagar 160$ pareceu-me um bocado exagerado.
Até para se ver as cataratas é preciso pagar 20$ e se quiseres dar um passeio
por uma zona das cataratas e vê-las um bocado melhor pagas mais 40$...
fiquei-me pela vista de longe, isto de ser voluntário não dá para grandes
gastos. Para ajudar a coisa, apercebi-me que não conseguia levantar dinheiro o
que exigiu uma gestão apertada do pouco dinheiro que tinha comigo.
Apesar de no início estar
apreensivo quando cheguei ao hostel por estar sozinho, rapidamente dei por mim
a divertir-me com americanos, brazileiros, alemães e japoneses. O que fez com
que não tivesse passado praticamente tempo nenhum sozinho em Livingstone e
aproveitado para socializar como já não fazia desde que saí de Portugal!
Hipopótamos no Zambezi |
No regresso... o autocarro
atrasou-se, só chegando a Mongu às 17:30. Para ir para Kalabo de carro é
preciso atravessar o Zambezi numa especie de ferry, no entanto o ferry fecha às
18 horas. Ou seja, à hora que cheguei ninguém me podia ir buscar de carro de
Kalabo e sem dinheiro no bolso o que é que ia fazer em Mongu durante a noite?
Uns quantos telefonemas depois e lá havia a hipótese de ficar em Mongu numa
residencial de um bacano amigo de um tipo de Kalabo e fazia-se o pagamento
depois... epah... mas eu queria mesmo era ir para Kalabo, pelo que decidi tentar
de qualquer forma: Fui até à estrada que vai para o ferry e lá consegui apanhar
boleia de um tipo até ao rio. No rio o tipo falou com uns pescadores que me
levaram à outra margem numa canoa artesanal a troco de dois punhados de
amêndoas que tinha comigo.
Que descanso, o caos das cidades
africanas já tinha ficado para trás. Já do outro lado, enquanto esperava pela minha
boleia para Kalabo, juntei-me a uma família de vendedores à beira rio que
estavam a acabar o jantar à fogueira e aproveitei para admirar o Zambezi à
noite banhado pelo luar. Não me importava que a minha boleia demorasse, ali
estava em paz.
Victoria Falls - Numa época onde a quantidade água é das mais baixas do ano... |
Olá Homem das mil e aventuras! Está tudo bem contigo querido sobrinho,nós estamos bem.Isso aí e de tirar a respiração com as peripécias que te aconteceram. Apesar de tudo,pensa que são aprendizagens e lá diz o velho ditado "o que não nos mata torna-nos mais fortes". As fotografias estão belíssimas, beijinhos e tudo a correr bem, saudades e um grande abraço.
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