sábado, 25 de agosto de 2012

caçadores furtivos!


Dia de ir ambora de Matamanene e voltar a Kalabo. Desta vez acordamos sem pressas, apesar disso às 7:00 já estava acordado, é o hábito. De manhã não havia muito a fazer, preparar as malas, colocar água nas leoas, uma reparação rápida na vedação e era isso.

Concluidas as tarefas estavamos no caminho de regresso ao campo, quando uma emergência! Pelo sistema de rádio do carro (tipo rádio taxis aqui do sítio) a notícia de que na zona norte do parque foi encontrado um grupo de cerca de 20 caçadores furtivos, os rangers só conseguiram apanhar dois deles, cada um com uma espingarda e precisavam de transporte para Kalabo.

Nisto o Craig e o Roger entram no carro e lá vão eles ao encontro dos rangers e dos caçadores furtivos. 4 horas depois heis que chegam ao campo: no carro, o Craig, dois Rangers e dois caçadores, na bagagem do jipe, pedaços e pedaços de carne, na patrte de cima do jipe preso com cordas, cabeças de gnus, patas, pele, o carro escorria sangue... e o cheiro não era dos melhores.
Como o Craig precisava de trazer o avião de volta a Kalabo, quem é que tinha que levar o jipe para Kalabo? Aqui o Arturzinho, ah pois!

Eu enfiado num carro a tresandar a morte e a pingar sangue, com dois rangers e dois trolhas algemados, por baixo dos meus pés duas espingardas, os rangers cada um com a sua AK-47 às costas... parecia um filme! A diferença é que desta vez não estava a assistir, estava a participar.
Após duas horas de viagem, lá chegámos nós a Kalabo... uff... que saga!

companheiro de quarto em Matamanene
(não se queixou do meu ressonar, ao que parece tínhamos  horários completamente diferentes, e fazia o favor de caçar alguns mosquitos enquanto eu dormia)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


A semana está mesmo a acabar. Hoje é o último dia e a maior parte da malta já se foi embora. Ontém de manhã o John e hoje por valta das 11h foi o resto, aqui no campo só fiquei eu, o Craig, o Hegle e a malta das filmagens.
Ontém estava tão roto que nem tive energia para escrever... foi jantar e enfiar-me na cama.
O dia de ontém, para não variar, começou às 6:00. Arrancámos para a vedação dos búfalos, era necessário vacinar e desparasitar os 36 búfalos que faltavam.

bufalo e moi man

36 búfalos, um dardo a cada um,  7 injecções por animal, desparasitante, fotografias, spray nas feridas, testes de gravidez... foi uma longa manhã que só terminou perto das 14:00. As minhas tarefas variaram entre apontar todos os dados, encher seringas, segurar os cornos de alguns, colocar spray nas feridas.
Após o almoço, mais hienas! Mais duas coileiras mudadas, mais amostras de sangue, mais medições, mais fotografias. Gosto bem mais de hienas do que antes! Curiosamente são mais bonitos, civilizados e “limpinhos” do que parecem na televisão. Entretanto ficou de noite e foi um castigo para encontrar o caminho de volta ao campo, mas valeu a pena porque no caminho cruzámo-nos com porcos-espinhos!

preguiça ao sol

chita!

Hoje o dia começou com mais uma busca à hiena, no caminho de volta encontrámos uma chita.
As refeições, agora que a mulher do Craig já não está presente são bem mais simples, ao almoço umas tostas, queijo, fiambre, amendoins, atum, cerveja e no final fiz um café forte. Estava mesmo a precisar.
Agora estamos à espera que fique mais fresco, o resto do dia vai ter como tarefas, continuar o fogo iniciado na 2ª feira e observar as leoas na vedação. 
tudo calmo na vedação das leoas



quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Hoje estou muito cansado para escrever o que quer que seja... na verdade o dia nem foi muito cansativo, mas isto de acrodar consecutivamente ás 5:30 vai moendo.

Resumo do dia:
  1. captura de um gnu para alimentar as leoas
  2. observação (quase a dormir) das leoas com a malta do documentário
  3. substituição da coleira numa hiena
  4. assistência veterinária para duas “bufalas” pequenas
  5. jantar que nem um porco
  6. sono, muito...
  7. dormir!
a ajustar uma coleira numa hiena


A equipa:
  • Eu
  • Craig e Raquel – African Parks
  • Herbert e Brad – tipos do documentário (sequela do documentário “The last lioness”)
  • Hegle – holandês do Zambian Carnivore Program
  • John – Neozelandês piloto do helicóptero
  • Ian – veterinário e o tipo dos dardos
  • Ross e Lin – neozelandeses amigos do John que aproveitaram para tirar uma férias (o sotaque neozelandês é mesmo marado! Não percebo patavina do que o Lin diz... sorrio e digo que sim... ao que parece ele também é meio surdo e também lhe escapam metade das coisas que eu digo.)
  • Catelyn e Dylan – mulher e filho do Craig
Craig, Ross, Hegle, eu, Dylan e Catelyn


terça-feira, 21 de agosto de 2012


Para variar o dia começou ás 6 da manhã. Desta vez com um pequeno almoço reforçado: muffins, cereais, iogurte, leite, chá, café... aproveitei para encher a barriga: 3 muffins no bucho, duas chavenas de café com leite e ainda tive tempo e espaço para uns biscoitos.
Após o pequeno almoço lá fomos nós para a grande saga: colocar a Lady Liuwa na vedação juntamente com a leoa mais nova que já lá está.
Lady Liuwa

Objectivo: fazer com que elas se dêm bem (esperamos nós) para serem libertadas dentro de 6 semanas, de forma a que fiquem juntas, que os machos as encontrem e que formam finalmente um grupo, uma família. Após longas horas de caminho, lá a encontrámos, conseguiu-se mudar-lhe a coleira e com muito cuidado colocá-la na pick-up e lá fomos nós para a vedação, sempre muito atentos à respiração e preocupados com os solavancos do carro e possíveis vómitos. Tudo correu bem. Chegando à vedação foi necessário atordoar a outra, de forma a que acordassem ambas ao mesmo tempo para facilitar a adaptação e para lhe mudar a coleira.
operação Lady Liuwa - 1



Operação Lady Liuwa - 2
Passou-se algum tempo de observação e algum nervosismo, elas acordam, aproximam-se, cheiram-se, algumas escaramuças, nada de especial e ela que se faz tarde! Os elandes ainda vinham aí! Que animais lindos, que bestas!
operação elande
Para os elandes a aproximação teve que ser feita de helicóptero, para estes animais o tranquilizante funciona de forma diferente apesar de ser um cocktail específico, antes de caírem no chão ainda se fartam de correr e mesmo quando caem no chão, ainda ficam meio acordados, e que força! 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012


Segunda feira, o dia começou cedo, às 6 da manhã já estava a arrancar com dois rangers para fazermos um fogo controlado de forma a impedir fogos acidentais de chegarem à vedação onde se encontra temporariamente uma leoa.
Na verdade não tive que fazer grande coisa: conduzir o pessoal para o local, acompanhá-los de carro enquanto o fogo prosseguia ao longo do caminho e por fim irmos até à vedação substituir as baterias da vedação eléctrificada, com muito sono à mistura, deu para assistir pela primeira vez ao nascer do sol em Liuwa Plain.
Nascer do sol em Liuwa Plain

Missão cumprida e aí fomos nos de volta ao campo “Matamanene Bush Camp”. Após mais um café e alguns “rusks” (biscoitos sul-africanos) o Craig tem de ir à vedação da leoa fazer umas reparações “Artur, queres vir?”, “claro que sim! Vamos a isso”, e lá fomos nós os dois com o Roger (um dos rangers). A terefa não parecia difícil, o problema é que as reparações tinham que ser feitas do lado de dentro (!!!), resultado, lá fomos nós os três para dentro da vedação onde se encontrava uma leoa selvagem! Sempre com o carro por perto não fosse o diabo tecê-las, ficámos por lá cerca de 3 horas e meia, com a leoa sempre a observar-nos com toda a atenção, ficava sempre a 15/20 metros de nós. Andávamos uns metros e lá ia ela mais uns metros na nossa direcção, após uns minutos deitava-se e lá ficava ela mantendo-nos sempre debaixo de olho.  Nunca pensei!
com a leoa debaixo de olho
Após umas sandes e muita água, lá fomos nós á procura de um dos machos para substituir a coleira. A viagem ainda foi longa, com o cansaço não resisti a mandar umas cabeçadas no caminho, o sono pesava, entretanto “olha, ali estão eles”, à minha frente dois leões machos adultos por entre as árvores no meio da planície africana.
O Ian (veterinário de serviço) preparou o cocktail, atirou um dardo e puff, lá estava ele caído no chão a dormir que nem uma pedra. Tiraram-se as medidas, mudou-se a coleira e recolheu-se uma amostra de sangue, muitas fotografias depois e lá se deu outro cocktail, desta vez para o bicho acordar. No caminho de volta ao campo decido ir na caixa de uma das pick-ups. Que por do sol vrutal! Que paisagem! Manadas e manadas de gnus, grupos enormes de zebras!
em busca dos leões
eu e a besta


Chegando ao campo só deu tempo de tomar um duche quente, beber duas cervejas com a malta à fogueira e comer um jantar fenomenal. O sono aperta apesar de ainda serem 22h, amanhã é novo dia. 

pôr do sol em Liuwa Plain




sábado, 18 de agosto de 2012

Adeus Lusaka, olá Kalabo - 2


Mais uma corrida mais uma viagem!

Ora, pois é, mal assentei arraiais em Kalabo, heis que uma semana depois já estava mais uma vez a caminho de Lusaka. Objectivo: ir buscar o visto que me vai permitir ficar em terras zambianas por 6 meses.
Mais uma vez Lusaka não surpreendeu, continuava feia e desinteressante, sem centro histórico, sem monumentos mas muito consistente, não surpreendeu, continua igual a si própria. Desta vez não estive sozinho no escritório, tive a companhia do Craig (outro manager da African Parks). Entretanto fiquei a saber que apesar de tanta cerca eléctrica e muros altos, houve dois carros na semana passada que foram assaltados...

Após inúmeras compras, aproveitando o facto de estarmos na cidade para atestar as despensas, frigorificos e arcas congeladoras de Kalabo, lá chegou o dia de ir buscar o visto. Coisa simples à partida: ir à imigração, assinar o visto e pronto. Não sei como é o serviço de imigração em portugal, mas na Zâmbia posso dizer que é caótico, para não dizer coisas piores... entrando no edifício, deparo-me com um mar de gente, “mas afinal onde é que eu me safo?  Ah! É ali naquela secretária!”. Uma secretária cheia de papelada, com um cenário de amontoados de pastas e dossiers no chão que chegavam pelo menos à barriga de qualquer um, por detrás de tanto papel lá estava um homenzinho com a maior calma deste mundo, ignorando o amontoado de gente e falando ao telemóvel, rindo, conversando com os colegas, sem pressas... supostamente havia uma fila, no entanto essa fila já pareciam 3 ou 4 e atrás de mim as pessoas tentavam chegar o mais próximo possível da secretária... sentindo o bafo de umas quantas e após alguns empurrões, lá chega a minha vez. Nome: Artur Miguel Santos dos Vitorino (??) “olhe, o nome está ao contrário”, “oh amigo isso não tem importância nenhuma, está mal escrito?” “não mal escrito não está, está é pela ordem errada...” “olhe isso não faz mal, mas se quiser passe por cá às 14h” “ui ui!! Deixe lá... que se lixe...” e pronto... já tenho visto, pelos vistos não faz mal ter o nome ao contrário neste país.
passaporte e visto

A caminho de Kalabo, passando pelo Kafue, sempre deu para lavar a vista com alguma vida selvagem, levando no pensamente que se tudo correr bem, só volto a Lusaka quando for para apanhar o avião de regresso para Portugal!

grupo de elefantes no Kafue National Park

Rio Kafue
















Amanhã, é dia de partir para o parque, vai ser a semana das capturas e por isso vamos ficar hospedados em pleno coração de Liuwa Plains National Park, sem telemóvel nem internet, só nós e a bicharada! Vamos embora Liuwa!

domingo, 12 de agosto de 2012

Kalabo


Finalmente acordei hoje já praticamente restabelecido do meu desaranjo gastrointestinal. A partir de agora além de filtrar a água decidi também fervê-la. Então decidi finalmente dar uma volta pela aldeia para tirar algumas fotos.

o "porto" de Kalabo


Faz hoje uma semana que estou aqui em Kalabo. Kalabo é sem dúvida uma aldeia bonita, com gente simpática e amistosa, onde apesar de pequena as distâncias são enormes, caminhos de areia, árvores do caju e de manga por todo o lado apenas à espera das primeiras chuvas para começarem a produzir frutos, uma terra onde qualquer um se sente bem.
Kalabo (perto de casa)

Claro que nem tudo são rosas, é uma aldeia muito muito pobre, onde no mercado pouco mais se encontra do que tomates e cebolas, onde o solo é praticamente só areia e para se cultivar algo tem que se ir buscar terra bem longe. No entanto as pessoas são felizes aqui, gostam da sua terra e eu também.

banca de legumes

uma das várias mercearias locais


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ontem foi um dia estranho...

O dia começou bem, acordei tomei o pequeno almoço e lá fomos nós para o escritório, era o dia de começar a organizar a base de dados de SIG do parque. Algumas tarefas informáticas deram-me fama de técnico de informática, então um senhor que também trabalha lá, veio pedir-me para ver o que se passava com o computador dele... "não liga" dizia ele. Ora, o computador do qual ele se queixava tinha dois problemas:

1. Não tinha o cabo que liga o PC à electricidade,
2. Não tinha monitor...

Problemas resolvidos e lá voltou o PC a funcionar dentro da normalidade. :)

Os problemas começaram por volta da hora do almoço... comecei a sentir-me enjoado e com tonturas... oh diabo!
vim para casa e mal tive tempo de chegar à casa de banho e já me saltava comida pela boca... "bem, agora que já vomitei hei de ficar melhor" pensei, deitei-me um bocado a descansar na tenda, uma vez que ainda me sentia fraco e com tonturas. Passado algum tempo, sinto novamente náuseas, uma corrida à casa de banho e lá vai disto... "bem, até o pequeno almoço?"
Agora que já tinha expelido tudo o que havia para expelir, vou beber uma águinha e voltar ao escritório. Assim foi, "30 minutos a pé vão-me fazer bem". Assim que chego ao escritório o pessoal já se estava a vir embora e então acabei por apanhar boleia do Craig. A cada solavanco do jipe o meu estômago parecia que se ia desfazer... chego à tenda e volto a descansar... "isto não está nada bem..." adormeço... 20 minutos e estava a acordar todo nauseado... casa de banho? não há tempo! abro a porta da tenda e com sorte! assim foi... desta vez, só água... não me alargando muito em mais pormenores nojentos, digamos que o meu dia de ontem foi assim: beber água, dormir, vomitar, diarreia...
Hoje já estou melhorzinho, maça cozida de manhã, chá preto e um arroz de atum sensaborão...

Qual a causa desta coisa? bem... há grandes probabilidades de ser do querido comprimido da profilaxia da malária. Na semana passada os dias após a toma do comprimido também foram atribulados, sentia-me cansado, com febre, com tonturas... Desta vez é o que se sabe...

Acho que a partir de agora já não tomo mais aquela porcaria... encho-me de repelentes e pronto...





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Adeus Lusaka, olá Kalabo!


Após 5 dias quase a desesperar por nunca mais chegar ao objectivo desta viagem, heis que finalmente chega o dia de arrancarmos para Kalabo.

Com medo de ser mais uma vez surpreendido por visitantes esperados mas a horas inesperadas, heis que decido acordar às 3:30, para estar pronto quer chegassem às 4:30 ou às 5:00. Assim, acordo despacho-me num instante, mas bebo o café com as maiores calmas de sempre, afinal ainda era cedo e nem sinais do resto do pessoal, ainda era noite cerrada.

Heis que finalmente chegam, ainda de noite colocamos tudo nos carros e aí vamos nós para uma viagem de quase 10 horas até à tão desejada aldeia de Kalabo.

Dois num carro e dois no outro e lá vou eu a conduzir por caminhos nunca por mim percorridos. Na rádio só notícias, ”assim não pode ser, Ricky, vê lá se há algum CD no porta-luvas”, “há aqui dois de um tal de Ali Fark... não sei quê” “o quê? Ali Farka Touré? Brutal!” e pronto assim se fez uma viagem até Mongu com dois CDs sempre em repeat, qual banda sonora de um documentário.

Heis que a estrada atravessa o Kafue National Parque, nada podia ser melhor para começar esta experiência do que logo no caminho vermos várias espécies de antílopes, babuínos, facoceros, uma manada enorme de bufalos ao longe e uns 4 elefantes de passagem, já para não falar de variadíssimas espécies de aves.
a caminho de Mongu
Chegando a Mongu, trocamos de carros e deixo-me ser conduzido pela Carrie até Kalabo, num misto entre estradas de terra, alcatrão e pelo leito do rio que nesta altura do ano está seco mas que a partir de Dezembro só se faz de barco.

Já instalado na minha tenda, que será os meus aposentos nos próximos meses, aqui estou eu a actualizar o blogue e a desfrutar de uma vista brutal sobre o rio.

a minha tenda, vista do alpendre da cozinha
companhia ao almoço



certamente um pequeno grande pescador
Curiosidade: que água bebemos aqui? Bem, há umas tubagens que puxam a água directamente do rio para as casas. Aí é só despejar a água da torneira para uns filtros de cerâmica e voilá!



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A lua por entre as folhas em Lusaka

Hoje o dia não podia ter começado da pior forma...
Eu já sabia que hoje se iam fazer as mudanças para um novo escritório, mas... "Artur, levanta-te que os homens querem levar a cama!" Wow! O quê? levanto-me de rompante, visto-me, nem tempo tenho de lavar a cara, só de colocar tudo na mala o mais depressa que consegui e quando dou por isso já estavam três tipos no quarto a desfazerem-me a cama e a levar tudo da casa para os carros.
Ainda não me tinha recomposto do acordar relâmpago quando "Artur, temos que ir ter com a Violet para tratar do visto", bolas, só tive tempo de por uma banana no bucho, dois copos de leite quase de "shot" e ala que se faz tarde.

Não é preciso dizer que estava mesmo mal humorado, isto de me despachar a correr de manhã não é para mim. preciso de me levantar da cama com calma, tomar o pequeno-almoço tranquilamente e beber um g'anda café para me preparar para enfrentar o mundo.

Não tive outro remédio, senão de ainda com remelas nos olhos a tentar perceber o que é que me tinha acontecido, ir acordando à medida que as coisas iam acontecendo.
Com tanta pressa, parte da minha comida ficara no escritório antigo: leite, cereais, carne picada e umas chamuças vegetarianas. Lá fomos nós buscar aquilo tudo (espero que não se tenha estragado nada), compar um cartão de telemóvel e tratar do visto.

Aqui no novo escritório, que na verdade é uma vivendinha bem simpática entre muros altos e arame electrificado, tudo está ainda ao molho, em caixotes, no chão... como é que eu vou fazer o almoço se nem me consigo mexer na cozinha? está tudo uma bagunça! Antes de ter tempo de saber o que fazer "Não te preocupes vens almoçar comigo" disparou o Fred enquanto falava ao telemóvel e lá fomos nós almoçar com mais dois amigos dele num restaurante onde pela primeira vez comi comida tradicional da Zâmbia: chima, uma papa de farinha de milho bem espessa que é acompanhada com feijão, legumes vários e porco, vaca, frango ou peixe.

Novo escritório em Lusaka
Vedação à prova de bandido
Escolho o peixe, boa escolha, a comida tinha óptimo aspecto e o restaurante era bem simpático. Ia-se buscar a comida ao estilo self-service e depois comíamos numas mesas no jardim. Nisto tudo, só faltavam os talheres, só me apercebi do porquê quando me dizem que tinha que ir ali a um balde lavar as mãos porque aquilo se come à mão. Bem sabem como é, quando em Roma... Ao início estava todo delicadinho a comer, mas lá para o fim já estava a comer à "true zambian style" segundo o Fred.
Findo o almoço volto para o escritório e durmo uma sesta... Ah! parece que as coisas estão a ganhar forma!

P.S. 1 - É verdade, se tiver uma diarreia nos próximos dias já sabem do que foi...



o meu quartito aqui em Lusaka para hoje amanhã
P.S. 2 - Hoje vi o homem dos gelados aqui do sítio a passar na rua e tive imensa pena de não ter comigo a máquina fotográfica. Era uma bicicleta triciclo com uma caixa de metal pintada de branco e acoplada à bicicleta que tinha escrito à mão "Ice Cream". Para se fazer notar o homem tinha consigo um badalo gigante que ia chocalhando de vez em quando.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Finalmente sento-me para escrever.

Apanhando o avião em Lisboa para o Dubai as coisas não podiam ter corrido melhor: lugar confortável, bons filmes para ver, boa comida, uma viagem impecável!
Chegando ao Dubai, com a diferença horária já eram 4:30, temperatura: 35ºC (!!), no entanto, a sensação de ter acabado de entrar numa estufa foi bastante breve, depressa entrei no aeroporto, ainda fresco que nem uma alface faço dois telefonemas, um para os pais e outro para a Sara, mais conversa menos conversa, desligo e lá vem uma mensagem automática a informar que o meu saldo era inferior a 10€, antes disso era de 20 e tal... é só fazer as contas... mas pronto "que se lixe" pensei, afinal estava no Dubai e só no início desta saga que aí vem.

Estando no aeroporto depressa me apercebo de várias coisas:

  1. Faltam 5 horas para o meu voo;
  2. O aeroporto é enorme e um autêntico centro comercial, lojas por todo o lado, desde as lojas básicas de souveniers até lojas onde se paga para fazer umas sonecas. Eram 4:30 da manhã mas ninguém diria, pareciam 5 da tarde, tudo aberto e imensa gente de um lado para o outro. Muitas delas não estavam a andar... estavam simplesmente a dormir no chão, em cadeiras, deitados, sentados...
  3. Está um frio de rachar, 35ºC lá fora mas um frio horrível lá dentro. Viva o petróleo! Ridículo...
  4. Já vi todas as lojas que havia para ver;
  5. Ainda faltam 3 horas para o meu voo e já estou a ficar mesmo cansado;
  6. E claro.... com frio!
Não consigo pregar olho no aeroporto, mas finalmente  lá vou eu embarcar para Lusaka. Desta vez o avião não é tão fixe, um frio de rachar, o sistema de video uma bosta, tal como o meu lugar e ao meu lado um chinês de ar débil e doente com a namorada que de vez em quando lhe dava umas palmadinhas nas costas para garantir que ele se mantinha vivo... digo eu não sei. 
Viagem horrível, a tremer de frio e só dormindo umas míseras 3 horas chegamos finalmente ao destino: Lusaka. Só de pensar que na rua iria estar um pouco mais quente fiquei logo todo contente!
Chegando lá, tinha primeiro que tudo passar no posto da imigração. À minha frente tenho 2 turcos com ar de Mario Brothers e uns 15 chineses, também eles com um ar feio, sujo e doente. Finalmente lá carimbei o passaporte e com as minhas malas lá fui eu. À saída dei de caras com um tipo gorducho bem disposto e de riso fácil (Fred) que tinha na mão um papel a dizer "Artur Santos - African Parks" e lá fomos nós até ao escritório aqui em Lusaka, mais tarde apareceu a Raquel (park manager do parque para onde vou), conversámos um bocado e fomos para uma reunião com dois dos big bosses da organização. Ah pois, aterrei mesmo de para-quedas naquela reunião... resultado: experimentei a cerveja local (Mozi, até é bastante boa), comi de borla e ainda rapei mais frio do que até então, porque como estava calor... a reunião e o jantar foi todo na esplanada do hotel.
Estava tão cansado  que quase nem dizia nada, chegando à cama ás 22:30 adormeci como um bebé! 

Hoje o dia foi bastante mole a aborrecido: burocracias, papéis, mais papéis e umas compritas no supermercado.
As coisas aqui são um bocado mais caras do que esperava, o azeite é um luxo (12€ uma garrafita de 0,75L). 
Entretanto ainda não tive paciência nem vontade de tirar fotos quase nenhumas. A cidade é estranha... um misto entre uma cidade banal europeia, com casas com muros altos, arame farpado, guardas à porta, polícias de farda militar com metralhadoras ás costas... enfim, nada que valha a pena. Mas também, ninguém vem a África pelas cidades e muito menos foi esse o meu objectivo!

Claro que o resultado de tanto frio e cansaço de ontem só podia ser eu hoje estar a sentir-me engripado... mas sempre deu para pôr a escrita em dia.
Sinto que  isto ainda não começou, acho que só quando for para Kalabo no sábado é que tudo começará a ganhar forma, quanto mais não seja porque me vou finalmente instalar e a aventura vai começar nem que não seja por levar uma das pick-ups para lá: 10horas a conduzir pela esquerda e em estradas de terra!

Até lá é aguardar...