sábado, 8 de dezembro de 2012

Tranquilidade em Kalabo


Os últimos dias aqui em Kalabo têm sido do mais calmo que tem havido.

Depois de meses frenéticos, em que mal parava para respirar, desde que voltei de Livingstone que pouco tenho feito. Tenho aproveitado para descansar, tirar fotografias, ler, desfrutar aqui da vila e do rio, e nos intervalos aproveito para fazer qualquer coisa que vai aparecendo: levar scouts ao parque, terminar coisas de SIG, testar uns rádios... pouco mais.

À pesca no Luanguinga numa canoa tradicional
Ontém à tarde tive a oportunidade de voar com o Craig sobre o parque.Se o parque é lindo visto do chão, visto do ar então... só tive pena que não tivessemos voado sem as portas para as fotografias serem melhores, a sujidade e os reflexos no vidro não ajudaram a que a fotos representem a paisagem brutal que estava por baixo de mim: bandos de aves, manadas de gnus, zebras, bufalos, rios e lagos, árvores, aldeias, sombras... lindo!

Prontos para voar!


Em pouco mais de uma semana o parque passou de completamente seco para um estado de água por todo o lado, a paisagem transformou-se num instante e presenciar essa mudança na paisagem é qualquer coisa de espetacular!




Por mais que tente as fotografias não representam a beleza e a sensação de imensidão que o parque transmite... Olho para a paisagem “uau! Brutal, isto merece uma foto”, tiro a foto, olho para o resultado e “oh... bela bosta”, tiro os olhos da máquina e volto a olhar a paisagem: “Uau!” mais uma vez...


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Visita a Livingstone


Para aproveitar uns dias de descanso que me concederam, aproveitei para ir a Livingstone e ver as tão famosas Cataratas Victoria. Para ir para Livingstone tinha que ir de autocarro e para isso precisava de ir a Mongu. Aproveitando uma boleia de uns tipos aqui do parque que precisavam de ir a Mongu na 4ª feira passada, aí fui eu.

Elefantes nas margens do Zambezi em Livingstone

De Mongu a Livingstone são apenas 530 kms, no entanto a estrada é tão má, que só há um autocarro por semana e demora dois dias a lá chegar... passar 48 horas num autocarro mais velho que sei lá o quê por estradas do inferno, não me pareceu uma boa ideia, pelo que decidi ir para Livingstone via Lusaka, um caminho de 1100km mas que demora bem menos tempo... Claro que nem tudo é perfeito e os autocarros expresso (pelo menos os que apanhei) são uma espécie de igreja maná sobre rodas... se não és católico ou lá o que é, ficas a ser à força: horas e horas num autocarro com videos de missas ao bom estilo da igreja universal, coros de igreja, por aí fora... houve um autocarro que apanhei que antes de o autocarro arrancar levas com um padre a dar missa dentro do autocarro que te lixas! Devia ter levado uma t-shirt a dizer “I love satan” só para chatear...

Finalmente vi crocodilos como deve ser quanto arrotava 60$ num cruzeiro com jantar no Zambezi
Na estação de autocarros de Lusaka, um espaço aberto onde quaisquer semelhanças com uma lixeira a céu aberto são pura coincidência, decidi fumar um cigarrito enquanto esperava pelo autocarro, nisto aparece-me um polícia à frente a dizer que fumar ali era proibido e que tinha que o acompanhar à esquadra. Dentro da esquadra, um espaço minúsculo com mais dois polícias lá dentro e um cheiro no ar que era um misto de suor e mijo, dizem-me que tenho que pagar uma multa de 450.000 Kwachas (90$), peço-lhes imensa desculpa dizendo que não fazia a mínima ideia e que não há sinais absolutamente nenhuns a dizer que é proibido fumar, a resposta não podia ser pior: “se não paga a multa fica detido”. “Wow! O quê?” Tentei explicar que era um turista e que não sabia as regras dali e que tinha um autocarro para apanhar em 30 minutos e que não podia estar ali mais tempo... o cabrão nem truz nem muz... até que lhe disse que só tinha 50.000K comigo... claro que olharam uns para os outros e claro que aceitaram o soborno... saí dali o mais depressa que pude e enfie-me logo no autocarro.

Livingstone a comparar com as outras cidades que tenho visto aqui na Zâmbia é bem mais arrumadinha e limpinha, não fosse o local mais turístico de todos. Tudo ali é virado para o turismo, centenas de gajos na rua a impingirem óculos escuros, estatuetas, pulseiras, brincos, tudo e mais uma coisa... e que chatos que são! Mesmo nas lojas, não se consegue estar um segundo a olhar para as coisas sem que venha um gajo agarrar-te no braço e fazer-te ver as coisas que ele quer... marketing mais agressivo não há, o que eles não percebem é que isso só tira a vontade de comprar o que quer que seja.

Babuínos no catanço em Victoria Falls
Mas como qualquer sítio virado para o turismo tudo se paga e bem! Há imensa coisa fixe para se fazer em Livingstone, desde que tenham uma carteira a transbordar dinheiro. Eu bem que gostava de ter feito rafting... mas pagar 160$ pareceu-me um bocado exagerado. Até para se ver as cataratas é preciso pagar 20$ e se quiseres dar um passeio por uma zona das cataratas e vê-las um bocado melhor pagas mais 40$... fiquei-me pela vista de longe, isto de ser voluntário não dá para grandes gastos. Para ajudar a coisa, apercebi-me que não conseguia levantar dinheiro o que exigiu uma gestão apertada do pouco dinheiro que tinha comigo.
Apesar de no início estar apreensivo quando cheguei ao hostel por estar sozinho, rapidamente dei por mim a divertir-me com americanos, brazileiros, alemães e japoneses. O que fez com que não tivesse passado praticamente tempo nenhum sozinho em Livingstone e aproveitado para socializar como já não fazia desde que saí de Portugal!

Hipopótamos no Zambezi

No regresso... o autocarro atrasou-se, só chegando a Mongu às 17:30. Para ir para Kalabo de carro é preciso atravessar o Zambezi numa especie de ferry, no entanto o ferry fecha às 18 horas. Ou seja, à hora que cheguei ninguém me podia ir buscar de carro de Kalabo e sem dinheiro no bolso o que é que ia fazer em Mongu durante a noite? Uns quantos telefonemas depois e lá havia a hipótese de ficar em Mongu numa residencial de um bacano amigo de um tipo de Kalabo e fazia-se o pagamento depois... epah... mas eu queria mesmo era ir para Kalabo, pelo que decidi tentar de qualquer forma: Fui até à estrada que vai para o ferry e lá consegui apanhar boleia de um tipo até ao rio. No rio o tipo falou com uns pescadores que me levaram à outra margem numa canoa artesanal a troco de dois punhados de amêndoas que tinha comigo.
Que descanso, o caos das cidades africanas já tinha ficado para trás. Já do outro lado, enquanto esperava pela minha boleia para Kalabo, juntei-me a uma família de vendedores à beira rio que estavam a acabar o jantar à fogueira e aproveitei para admirar o Zambezi à noite banhado pelo luar. Não me importava que a minha boleia demorasse, ali estava em paz.
Victoria Falls - Numa época onde a quantidade água é das mais baixas do ano...

domingo, 18 de novembro de 2012

BBC Survival


O cansaço é tanto que a inspiração para escrever é quase nula... Na verdade, nem sei por onde começar...

As últimas 3 semanas foram de loucos! Após dois diazitos em Kalabo para comprar alguns legumes e arranjar roupa lavada, heis que o que me esperava em Matamanene não podia ser mais hard-core, mas ao mesmo tempo mais fixe.
A caminho dos mabecos

Com os tipos do Zambian Carnivore program ocupadíssimos com as chitas, restava uma pessoa para fazer o trabalho de manter os cães debaixo de olho durante a noite: eu.

Mabecos às 6:00: "mas este tipo está sempre aqui?"

O que aconteceu foi que fiquei 7 noites seguidas com os cães, isto poderia ser perfeitamente tranquilo se conseguisse dormir como deve ser durante o dia, mas com o calor, o que acontecia era acordar por volta das 10 a suar e sem conseguir domir. 

Os meus aposentos nesta última semana em Matamanene

Na última noite já estava mais morto que vivo! Os tipos da BBC ficaram tão agradecidos que decidiram pagar-me e trocámos e-mails e agora ao meu CV posso acrescentar "Filming assistant for BBC Survival - Wild Dogs Zambia"! 

Os irmãos Dalton

Um dos Dalton, ou a mamã Dalton... já não me lembro!

Nunca pensei estar tão perto de um documentário da BBC! O documentário sai só em Dezembro 2015, mas estou ansioso para ver o making of!
Agora que cheguei a Kalabo, só quero é descansar e tomar um banho!

Alguém sabe que escaravelho é este?


Vai um grilinho frito?
Posso dizer-vos que eram bem grandes (4 ou 5 cm) e que não sabem nada mal, parece camarão!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

13 horas com mabecos – Parte II


No segunda noite de observação de mabecos, não se passou grande coisa, eles tinham caçado um gnu adulto nessa manhã e então limitaram-se a ficar a dormir a noite quase toda. No início da noite houve um grupo de umas 4 hienas que se aproximaram e então os mabecos limitaram-se a deitarem-se todos juntos uns metros mais à frente de forma a não serem incomodados pelas hienas. Nada digno de excitante nessa noite não fosse a trovoada monumental...

Metido num carro sozinho na planície e a toda a minha volta relâmpagos brutais, à minha frente, à esquerda, à direita, atrás de mim... clarões por todo o lado, uns atrás dos outros e a trovoada deu origem a uma chuvada que começou às 20h e durou até às 3 da manhã, a trovoada aproximou-se e para além dos relâmpagos já se ouviam os trovões, mais e mais perto... devo dizer que a ideia do carro ser atingido por um raio me passou pela cabeça, mas parece que como o carro tem pneus de borracha, está isolado da terra e por isso não há perigo disso acontecer, o perigo está em sair do carro... coisa que não fiz.

Nessa noite utilizei outro carro, o carro do Zambian Carnivore Program (eu e os tipos do ZCP vamos alternando quem fica com os cães à noite) , que tem uma capota com infiltrações... eu só desejava que parasse de chover! Caíam gotas de água nos dois bancos da frente e um bocado na parte de trás. Levei um cobertor, porque as noites andam a arrefecer, mas a sensação de estar a dormitar enrolado no cobertor e de vez em quando cairem-me pingas de água na cara era horrível. Ainda passei algum tempo em que me limitava a agarrar em dois copos para amparar as gotas que teimavam em cair dentro do carro... mas às tantas os meus ombros cederam e deixei-me disso. Só queria que a chuva parasse... Quando por fim parou, passado cerca de uma hora, heis que os cães acordaram, espreguiçaram-se, cumprimentaram-se, brincaram um bocado e começaram a andar para Norte. Bem estava na altura de eu despertar também e começar a segui-los, passado duas horas heis que chegou a equipa da BBC e pude ir finalmente dormir, para variar só adormeci às 8h da manhã.

Mabeco

BBC em acção

Nessa mesma tarde, curiosamente estava bastante acordado, talvez por a noite ter sido bastante calma e por ter acordado só ao meio-dia, e decidi ir com o pessoal da BBC para as filmagens dessa tarde.
Foi o melhor que fiz, porque nessa mesma tarde presenciámos uma caçada ao gnu, desde o início em que os cães começaram a correr que nem desvairados até à morte lenta do gnu... e quando digo lenta, digo mesmo lenta... que cena mais macabra. Os mabecos não matam a presa e depois comem-na, não, estes meninos cansam a presa, massacram-na com “dentadinhas” aqui e ali, até que esta acaba por cair, aí eles começam a comê-la viva, até que esta acaba por morrer... é muito menos bonito do que na televisão e a sensação de ouvir o gnu a gemer e a grunhir enquanto os cães já lhe arrancam bocados de carne por debaixo da pele é assustadora.
A morte do artista

Por isso já sabem, quando sair o documentário da BBC vão ter uma cena de mabecos a comerem um gnu com o por do sol como pano de fundo. Pena que nesta fase a minha máquina já estivesse sem bateria...

Blue waxbill

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

13 horas com mabecos


Adivinhem quem está em Matamanene durante 3 semanas? Uma equipa da BBC para filmar mabecos aqui no parque! Depois de ter visto carradas de documentários de vida selvagem, acaba por ser um bocado surreal estar no mesmo sítio que esta malta e conhecer o Herbert que está a fazer um documentário sobre leões, que provavelmente será da National Geographic, e agora malta da BBC aqui em Liuwa Plain.

BBC em Liuwa Plain National Park

Depois de ter estado a observar leões, pensava eu que tinha sido algo hardocore: acordar às 4:30, ficar no carro até à hora de almoço e mais um bocado de observação à tarde... sabem que mais? Isso não foi nada!
Parece que os tipos da BBC não querem filmar de noite, no entanto os mabecos, ainda por cima com a lua cheia, agora fartam-se de andar à noite e como não há tempo a perder para os encontrar de manhã, heis que a minha tarefa é ficar com os mabecos a noite toooooooooooooda!

Ontém posso dizer que foi dos dias mais longos de sempre, acordei ás 6 da manhã para vir para o parque e às 18h estava a ir ter com os mabecos. Comigo tinha um prato com o jantar, um pacote de bolachas, duas garrafas de água, e o sistema de telemetria para encontrar e seguir os bichos (20 neste caso) caso os perdesse de vista. Foi uma longa noite, sentado no carro durante 13h!
De cada vez que os encontrava e eles se deitavam um bocado punha o despertador para 30 minutos mais tarde, passava um pouco pelas brasas, acordava e na maior parte das vezes eles já lá não estavam, aí ia eu à procura deles: uma mão no volante e nas mudanças, a outra a segurar a antena de fora da janela e o receptor no meu colo para ouvir se me estava a aproximar ou não, ora mais para a esquerda, ora para a direita...

Não foi nada fácil, devo dizer que as minhas costas estavam em papa e o meu braço de estar quase sempre esticado a segurar na antena já doía um bocado. Já para não falar de como urinar quando se está rodeado de hienas e mabecos?! Bem, não se pode conter isso eternamente e há alturas em que tem mesmo de se mandar uma mija... e não foi assim tão complicado, as hienas estavam entretidas com o gnu e os mabecos estavam deitados e ver o panorama, foi só abrir a porta do carro e mandar uma mija mesmo ali ao lado protegido pela porta para não me verem como um humano mas sim como um animal estranho com 4 rodas. Enquanto vertia águas mantinha sempre um olho no burro e outro no cigano, não fossem os animais aproximarem-se.

Mas foi como viver num documentário! Foi brutal vê-los a tentar caçar gnus à noite, não é que visse muito, tal era a poeirada no ar que a caçada provocava, mas entretanto lá conseguiram caçar, eu não vi, foi numa daquelas alturas em que adormeci e pufff... perdi a acção, mas quando cheguei perto deles, não eram mabecos que se estavam a banquetear, mas sim um grupo de cerca de 15 hienas. Foi brutal estar no carro a 5 ou 6 metros de 15 hienas ao molho a devorarem um gnu, ou deverei dizer chafurdarem numa carcaça de gnu, ouvi-las a grunhir e ouvir o som dos ossos a quebrar(!) e andarem à pancada umas com as outras. Os mabecos, coitados, limitaram-se a ficar ali deitados a vê-las a comer o que lhes pertencia. Como é que sei que foram os mabecos que caçaram? Bem... toda a noite vi hienas e seguir os mebecos por onde quer que fossem e é uma coisa que fazem frequentemente: seguir os mabecos, esperar pela caçada e roubar o troféu.
 Chegando a casa, foi comer qualquer coisa, lavar os dentes e cama... eram quase 8 da manhã e esperava dormir até às 14h pelo menos... pois... esperava, às 10:30 já estava acordado, a suar que nem um porco e não conseguia estar mais tempo na cama... tinha que ir para um sitio mais fresco e com tanto calor nem conseguia dormir mais...

Hoje aproveito para descansar e dormir, amanhã será mais uma longa noite com os mabecos.

P.S. Desculpem lá não haver fotos... mas de noite as fotografias com a minha máquina são uma bosta e o máximo que consegui foi uns videozinhos.

Tudo a postos para uma trovoada

As flores começam a rebentar por todo o lado

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Liberdade, finalmente!


Após quase três semanas em Kalabo, que me souberam a mel, depois de 4 semanas quase consecutivas em Matamenene, chegou a hora de voltar ao parque por uns dias.
Gnus e crias

Parece que os leões machos na semana passada, entraram cerca de 50 Km em Angola, ficaram lá por um dia e voltaram... voltaram? Voltou...
O macho que não tinha coleira desapareceu nessa viagem... não se sabe o que aconteceu, só sabemos que nunca mais foi visto desde então. O macho que voltou, voltou magro como nunca o tinha visto...  Assim, libertar as leoas tornou-se a nossa prioridade.
Lady Liuwa no último dia de cativeiro
Com este objectivo em mente aí fomos nós para Matamanene, o plano não podia ser mais simples: um gnu para as fêmeas a uns metros da entrada da vedação para as atrair para o exterior, e em simultâneo outro gnu para o macho, para prevenir que ele viesse à carcaça das fêmeas e dificultasse a saída destas da vedação.

Lady Liuwa e o gnu... ou o que restava dele

Com a fase 1 do plano concluída com sucesso, restou fazer figas e esperar que fêmeas e machos se encontrassem rapidamente e formassem um grupo.
Agora veio a parte mais dura, mas bem fixe, de tudo isto: ficar a observar horas e horas as leoas para saber como é que o encontro entre macho e fêmeas iria ser... foram dias a acordar às 4.30 da manhã e ficar a observar 5 ou 6 horas de seguida, o meu rabo já estava dormente e de vez em quando não conseguia evitar fechar os olhos por uns minutos. Mas fogo, valeu bem a pena e os leões estão bem e recomendam-se!

Lady Liuwa 1

Lady Liuwa 2

Em liberdade!

A observar as presas

The Lion King

Entretanto, no sábado tive que ir buscar um senhor a Mishulundu e levá-lo novamente a Mishilundu, com uma hora de caminho entre Matamanene e Mishulundu, foram 4 horas de trabalho ou 4 horas de passeio pelo parque, dependendo do ponto de vista, o que resultou em mais umas fotos, aproveitando estar numa outra zona do parque que ainda não tinha visto.

pelicanos e marabus

a caminho de Mishulundu

















É verdade! Já me esquecia! Com o aproximar da época das chuvas já se vêm umas cobrinhas por estas bandas! Uma manhã em Kalabo, acordo com os cães de R a ladrar, aproximei-me e tinham apanhado uma Boomslang que acabaram por comer deliciados. No dia seguinte, novamente uma Boomslang em Kalabo, desta vez na WC de R! Eheheh! Por fim, a caminho de Matamanene cruzámo-nos com uma Black Cobra que atravessava a estrada à nossa frente, devia ter uns 2 metros à vontade, e foi tão fixe quando ela levantou a cabeça e ficou com o “pescoço” com aquela forma típica das cobras capelo.
Ainda não vi nenhuma Black Mamba nem nenhuma Piton, mas ainda não perdi a esperança! Ah claro, já para não falar dos Nile Monitor Lizard, com cerca de 1 metro de comprimento, que costumam passear perto da minha tenda em Kalabo...
Nile Monitor Lizard
P.S. Hoje reparei que o meu pão estava com umas pintas azuis e amarelas... dizem que é bolor, a mim soube-me a pão com queijo roquefort.

sábado, 13 de outubro de 2012

Parabéns a mim tra la la...


Epah que dia de anos tão igual a tantos outros aqui! Para variar, sozinho...
Já tinha ouvido falar que com a idade a avançar, cada vez mais o dia de aniversário deixa de ser um dia de celebração e festa e passa a ser um dia de tristeza. Celebrar o quê? O facto de estarmos a ficar velhos como o raio? Qualquer dia estou um trintão! Vou festejar isso? Fazia sentido quando tinha 17 anos e queria fazer 18 para tirar a carta de condução... agora!?
Depois de um almoço sumptuoso composto por um refogado de cebola, alho francês e soja, acompanhado por um imaculado arroz branco, a tarde foi passada no skype, a ler o Colapso e heis que me ia preparar para ver um filme quando oiço batucada e gritaria...

Serão os Radiohead em Kalabo? O Cristiano Ronaldo? O Durão Barroso teve um AVC? O Passos Coelho foi atropelado por um comboio? 

Como não podia deixar de ser fui ver o que se passava, agarrei na máquina fotográfica e lá fui eu a chinelar pela areia fora, coisa que parece mais fácil do que é na realidade porque um dos chinelos está sempre a soltar a coisa que agarra ao dedo... made in china diz ele.

Epah grande maluquice! Dezenas e dezenas de pessoas a  gritar e a dançar, pessoal mascarado a fazer macacadas e a dançar, a multidão ao rubro!
Chegando lá perguntei “Isto é alguma celebração? Hoje é alguma data especial?”, “é sabado” responderam-me. 
Acho que na verdade estavam a celebrar o meu aniversário e nem sabiam!

Beijinhos e abraços a todos! 
festa rija em Kalabo!

as anciãs também fazem a festa


o branco (mukua) nunca passa despercebido por mais que tente...

o mukua em kalabo a ser atentamente observado pela pequenada



sábado, 6 de outubro de 2012

Patrão fora, dia santo na loja


Normalmente a hora de ir para o escritório é por volta das 8h. Quinta feira, às oito fui ter a casa da Raquel para ver se ela ja estava pronta para irmos para o escritório, cheguei lá e disseram-me que ela já tinha saído mais cedo. Ok pensei, deve ter tido alguma coisa para tratar de manhã, agarrei num dos carros e pus-me a caminho do escritório. Chegando lá estranhei não ver o carro da Raquel: “Sabem da Raquel?  Pensava que ela estava aqui.” “A Raquel? Ah, ela foi hoje de manhã para Lusaka para ir de férias”. Ahahahah! Eu sabia que ela ia de férias na proxima semana, mas ninguém me disse que era na 5ª... inclusivamente ela própria! Hummm... é ridículo eu sei.

Mas é como diz o ditado, “patrão fora, dia santo na loja” e foram uns santos dias sem dúvida! Quinta e sexta fiz o que tinha a fazer no escritório de manhã e aproveitei as tardes para ir andar de kayak e dar uns mergulhos, andando de kayka pelo Luanguinga, de vez em quando encontram-se uns bancos de areia que são autênticas praias paradisiacas, a água é mesmo transparente e a temperatura óptima! Não vi nem crocodilos nem hipopótamos por isso não se preocupem. Aliás, há sempre imensos miúdos a tomar banho no rio e imensos barcos a remos de passagem.

 

À noite decidi ir jantar a um dos restaurantes aqui em Kalabo, há um que dizem que é o melhor de todos e foi para lá que me dirigi. No entanto esqueci-me de um pormenor... dinheiro! Tinha ficado em casa e estando a pé era meia hora para trás... pensei, vou aqui só beber uma cervejinha e depois vou para casa. Mas entretanto encontrei o Chris e o Adrian e fiquei com eles a beber uma cervejinha, entretanto chegaram mais uns scouts e quando dei por mim, estávamos a beber cervejas atrás de cervejas e a falar de como resolver o problema R aqui em Liuwa... Começam a cair umas sementes de revolução aqui em Kalabo! Eheheh!

É que pelos vistos não encontro ninguém que vá à bola com R e toda a gente na aldeia se queixa do mesmo... é o próprio projecto de conservação que está em jogo e a direcção deveria saber disso... 
Só um exemplo: como é que alguém que ganha cerca de 3000$/mês limpos e tem casa, carro e gasóleo da empresa se pode queixar que os ordenados mínimos na Zâmbia subiram para cerca de 150$? Acho que isto diz muito sobre o carácter de uma pessoa...

Qualquer dia já se arrancam mangas das árvores!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Hipo!


Não pensem que ando a viver as aventuras dos PQM* todos os dias! Agora em Kalabo o risco de aventuras aparecerem em cada esquina é diminuto. Acordar cedo, ir para o escritório, trabalhar ao computador, vira a casa almoçar, voltar para o escritório, passar pelo mercado para comprar qualquer coisa que esteja em falta: açucar, legumes, pão, chegar a casa contemplar o rio, jantar, ver um filme e dormir.
Mas hoje aguardava-me uma surpresa quando vim a casa almoçar. A uns 50 metros da tenda,     mesmo no meio do Rio Luanguinga estava um hipopótamo! Ehehe! Que comédia! Era ver os barcos de pescadores a passar e mal viam o hipopótamo paravam os barcos ou iam o mais lentamente possível junto ás margens enquanto pessoas do outro lado do rio faziam barulho para afastar o animal.

Hipopótamo visto da tenda (pontinho preto no meio do rio)

Agora em ponto grande
Hoje arranjei (finalmente!) uma cana de pesca, não é mais do que uma vara de bambu com uns 4 metros de fio de pesca atado na ponta da vara e um chumbo e um anzol. Agora só falta arranjar minhocas e posso começar a comer peixe com fartura, pelos vistos aqui neste rio e bem perto da tenda apanham-se belos peixes!

Nascer da lua em Kalabo
*PQM – Partido dos Quatro Malucos. Nome que eu, a minha irmã e os meus primos João e Carlitos adoptámos quando éramos putos (não somos ainda?) e andávamos em aventuras, ora na Ribeira de Seiça, em baldios (a Montanha!), casa do Tio Zé em Manique, prédios abandonados, praias, sofás... 


sábado, 29 de setembro de 2012

Conservação?


Muito tenho pensado nestes últimos dias sobre a conservação da natureza em África. Na verdade tenho pensado tanto que até me custa escrever sobre isso, na minha cabeça há uma data de ideias soltas que tentar sintetizá-las a todas num texto inteligível não é nada fácil...

família de hienas a relaxar ao sol

Sempre fui (e ainda sou, calma pessoal!) um amante da natureza, daí ter o desejo de trabalhar em conservação tanto em Portugal como aqui em África. No entanto os paradigmas são tão diferentes que nem sei por onde começar...

Talvez devesse começar pelo carinho que ando a ganhar pelas gentes daqui e a aversão que começo a sentir pelos brancos endinheirados que por aqui andam... Na verdade tudo se resume a isso: brancos endinheirados Vs gentes locais.

Claro que de certeza que isto não se passa exclusivamente em África, o panorama não deve ser assim tão diferente na América do Sul, Sudoeste Asiático e ilhas várias na oceania e por esses mares tropicais fora. Mas é em África que eu estou e por isso é sobre África que me debruço.

O que ando a sentir aqui é que existe a apropriação do espaço e dos direitos sobre a terra por parte de organizações em nome da conservação da natureza. Claro que para conservar é necessário algumas regras, limites, imposições, mas... as pessoas que aqui andam sempre viveram desta terra, com estes animais, a terra é delas não? Não... pelos vistos não. Aqui pelos vistos, as pessoas não podem erguer vedações de paus à volta das suas colheitas, mas os brancos podem erguer uma vedação electrificada à volta de uma pista de aterragem com 1,5 Km de comprimento... são estas merdas que me andam a irritar. Parece que especialmente aqui em África a conservação é feita, com o principal objectivo de lucrar com as visitas de brancos ricos dispostos a pagar 600$/pessoa/noite como alguns casos... e claro esses podem fazer tudo... os dólares deles compram tudo...

Começo a achar que há alguma podridão à volta da conservação neste continente... afinal de contas, uma pessoa preocupar-se com a conservação da natureza é um luxo. Sem comida, água, luz, saúde, como é que estas pessoas se vão preocupar com a conservação? Mas depois vêm os dolares americanos, europeus, sul-africanos impor ainda mais restrições... faz-me confusão, a sério que faz. Sim eu sei, teoricamente através do turismo da natureza, a conservação pode ajudar a enriquecer o país e as comunidades locias, mas é só teoricamente, pelo menos aqui. Ás vezes penso que África é quase como um Zoo para os ocidentais... Já muito tinha ouvido falar sobre este assunto, mas senti-lo é outra coisa. A conservação da natureza em áfrica é feita por brancos para brancos.


Cada vez mais acho que a conservação só faz sentido quando se tem a população do nosso lado. Conservação não só da natureza mas também das economias locais e das pessoas, acompanhado de um grande esforço e investimento na parte da sensibilização ambiental, de outra forma, a longo prazo nunca irá ser uma ceonservação bem sucedida a longo prazo.

Por exemplo, uma pessoa rouba. O que é que será mais eficaz? Dar-lhe com um pau nas costas e prende-la, ou explicar-lhe que roubar é mau e dar-lhe as ferramentas necessárias para não ter necessidade de roubar? Parece que aqui em África é mais fácil e simples dar com o pau nas costas...

Não quero dizer com isto que não faça sentido conservar e que todos os brancos que por aqui andam são assim, é só uma reflexão, mas é algo que me faz sentir um bocado mal... Sinto-me quase como o tipo do dança com lobos que inicialmente combatia os índios e depois junta-se aos índios contra os cowboys... quem diz dança com lobos, diz pocahontas, último samurai ou avatar... a fórmula é a mesma, mas funciona não é? E pelos vistos não é assim tão descabido...




Introdução tardia


Porquê fazer uma introdução passados dois meses? Bem, era algo que já tinha pensado que devia fazer, mas a perguiça de escrever fez com que esta tarefa fosse constantemente adiada. Aproveito este fim de semana de descanso aqui em Kalabo para o fazer.

A ideia de fazer voluntariado, num local como África, América do Sul ou Ásia, há muito que me andava a atormentar o espírito. Queria fazer, mas não sabia muito bem quando, onde, como, com quem... Podia não ser voluntariado, na verdade podia ser qualquer coisa, mais do que querer fazer voluntariado ou trabalhar, o que eu procurava mesmo era a experiência de estar num destes sítios durante algum tempo, viver no mato!
Com o estágio na LPN a terminar e sem propostas de continuidade, comecei a fazer contactos. Porque não a Gorongosa em Moçambique? Pareceu-me bem! Enviei um mail, assunto: quero ir, fazer seja lá o que for. A resposta foi positiva, mas... “podes vir quando quiseres, desde que com financiamento próprio”. “Ok fixe, eles pareceram gostar de mim, mas onde é que eu vou arranjar financiamento?” 

Daí decidi ir falar com um professor da FCUL que apesar de não o conhecer pessoalmente sabia que a linha de investigação dele era na onde do que eu queria fazer e com tantos projectos além fronteiras, era concerteza a pessoa indicada para me aconselhar. Mais uma vez, enviei um mail: “não me conhce, mas acho que  é a pessoa indicada para discutir consigo uma série de coisas”, mais uma vez a resposta foi positiva “ Ok, aparece no meu gabinete dia X às X horas”. Após alguma conversa disse-me que era algo complicado arranjar financiamento para ir para a Gorongosa nessa altura, que talvez só no ano seguinte e que era preciso muito dinheiro uma vez que precisava de pagar tudo: casa, gasóleo, comida, etc etc... mas heis que após alguma refelxão “pah, mas se queres mesmo ir para África, há uma organização chamada African Parks que de certeza que te aceita como voluntário”.

Nesse mesmo dia cheguei a casa e decidi enviar um mail como sugerido: uma carta de motivação com o CV em anexo. O destino não importava, o que importava era ir: candidatei-me para 3 parques, Odzala na República Democrática do Congo, Garamba no Congo e Liuwa Plain na Zâmbia. A resposta não poderia ter sido mais rápida e inesperada, no dia seguinte já tinha uma resposta: “Ok! Se quiseres vir para Liuwa Plain serás bem vindo!”. E pronto... a partir daí foi só acertar agulhas e arriscar.

Entretanto a proposta da LPN já tinha chegado e já estava de novo no Programa Lince, mas o comboio de África já estava em andamento... já não havia nada a fazer, não podia deixar passar esta oportunidade. O resto já vocês sabem...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Mais uma semana passada em Matamanene.
Mais uma semana sem comunicações, daí as entradas no blogue estarem a ser tão esporádicas. É o que há meus amigos, isto de andar no mato tem destas coisas... Ok eu sei, há um spot com internet no parque, mas é uma coisa muito especial, pois o sinal que se apanha é muito muito fraquinho e só ao fim do dia/noite e quando não há vento... mais uma vez é como vos digo... é o que há! :)
Agora já estou em Kalabo, regresssei ontem ao fim do dia, e amanhã ou 5ª já volto outra vez para o mato. Mais uma semana sem comunicações.

Águia pesqueira africana e grous coroados

No outro dia em Matamenene faltou a luz. Sim, porque entre outras coisas a luz é um bem precioso. Temos um gerador e três painéis solares que alimentam uma bateria de 12 baterias. Mas para computadores, luz, frigorífico os painéis são insuficientes e a gasolina para o gerador tem que ser bem racionada... ou seja, ligo o frigorífico umas 2 horas por dia e já vai com sorte! Mas pronto, como vos estava a dizer faltou a luz à noite. E eu pensei, "Epah, não vale a pena ligar o gerador agora, fica para amanhã, tenho bateria no portátil, vou ver um episódio de uma série e vou dormir", esta era a minha ideia inicial, mas sem luz, a única fonte de luz em casa era o ecrã do computador e este estava constantemente a ser bombardeado por toda a espécie de insectos voadores possíveis e imaginários, o computador e a minha cabeça está claro. Desisti. "Vou mas é dormir..." Chego ao quarto e reparo na minha rede mosquiteira à volta da cama. "Que coisa fenomenal isto das redes mosquiteiras, tanto insecto à minha volta e eu aqui dentro estou em paz. Deito-me. Ainda com a lanterna ligada olho para cima e exactamente por cima da minha cara a uns dois palmos de distância vejo um aranhão gigante! "Epah que engraçado, a sacana da aranha usa isto como uma teia para apanhar os insectos que andam aí". Olho melhor: "Fogo! a sacana está do lado de dentro! ainda me cai na boca durante a noite!" (mais uma vez, "fogo" e "sacana" não são as palavras exactas) saio da cama e espeto uma chinelada valente na aranha... bem... e assim fui dormir descansado com a aranha agora desfeita em papa entre o meu chinelo e a rede.

No outro dia estava distraído ao computador quando oiço um barulho, era um sacana de um macaco de volta do frasco do café! eheheh!

De volta a Kalabo: os jacarandás já estão em flor! Até parece Lisboa!